quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Precisava de dias mais fáceis.

“Precisava de dias mais fáceis. Podias ter-me dito que ias sair da minha vida. Nunca sabemos quando acaba ou se transforma o amor. Estamos remetidas ao silêncio da distância. Há um tempo para acreditar, um tempo para viver e um tempo para desistir. E eu hoje, desisti. Desisti de ti, de nós. E desisti porque desististe de mim, porque me fizeste não sentir, porque rasgaste-te das minhas fotos e tapaste as minhas. Mostraste o que realmente sentias por mim. Sempre soube que pouco ou nada me quiseste, fui uma obrigação na tua vida, já me tinhas dito isso num acto de fúria. Disseste-me que me protegias pouco porque eu era desenrascada. Eu era desenrascada porque não tinha a tua protecção. Fizeste me odiar-me. Odiar o pai. Odiar o mano e até a mulher que ele escolheu.  Precisei de me questionar muito nestes últimos três meses. Demorei. Sentei-me e pensei. Chorei. Gritei. Demorei muito tempo a aceitar que, às vezes, desistir é o mesmo que vencer. Há uns meses atrás se me perguntassem isto eu diria que não, que quem desiste é cobarde e perde. Mas tu ensinaste-me o contrário. Hoje sei que desistir é apenas um dos caminhos possíveis, às vezes o único. Contigo aprendi que o amor nem sempre é bom e saudável. Também aprendeste muito comigo, mais do que alguma vez vás admitir. O tempo vai dar-te tudo o que de mim guardaste, tiraste e roubaste. Não sei quando te voltarei a ver ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque guardei-te no meu coração antes de partires. Na noite que nasci, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha.
Até um dia, Mãe.
Ponto."

(texto adaptado)

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Carta à pequenina...

Olá Larocas… És gira J Quero que saibas que passados estes anos nunca me esqueci de ti. Tenho te presente todos os dias da minha vida. Nem eu sabia o quanto até hoje parar para te falar. Assim, directamente. Penso em como eramos felizes quando a mãe nos sentava na janela com um livro e um iogurte. Isso bastava. Ou quando o pai nos levava ao café às cavalitas. Ou ainda quando o mano nos deixava ver os nossos desenhos favoritos ao sábado de manhã enroladas no saco-de-cama azul e vermelho, lembras te desse saco de cama? Era tão quentinho e aconchegante, parecia um abraço. Sabes… não tem sido fácil. A caminhada que tenho feito tem sido conturbada. Tenho vivido os melhores momentos ao lado dos pais e do mano, é verdade. Temos dois sobrinhos lindos e grandes. Têm os nossos olhos e o sorriso e são tão parecidos contigo. Mas temos tido momentos difíceis, Larocas. Não é nada fácil crescer. A realidade dos adultos chocou me quando percebi que por detrás dos sorrisos da mãe e do pai há também coisas menos boas. Discussões. Angustias. Magoas. Dor. Descobri um mundo novo. Não é mau, não te assustes… é só menos bom. Quero que saibas que mantive a tua curiosidade e força. A tua maneira de conseguir chegar sempre mais à frente, mais alto. A tua luta interior por ser melhor mantem se, todos os dias. Às vezes é difícil, mas mantenho o teu sorriso, doce e capaz. Mas sim, vais continuar com mau feitio, apenas vai requintar com a idade. Vamos ter decisões a tomar e vai ser difícil tomá-las, muito por teres medo de falhar e deixar quem te gosta desiludido. São essas situações que te vão fazer mudar e crescer e sentir mais Mulher. A vida ditou-nos um caminho difícil no lado profissional, não consegui ainda ser a escritora que sonhavas ser quando punhas os óculos da mãe e te sentavas na máquina de escrever do pai. Mas não desisti do teu sonho. Não desisti de nenhum. Alguns deles até já consegui realizar. Continuamos rodeadas de livros e papeis. Temos trabalhado em muitos sítios e temos crescido muito. Continuas a partilhar a tua vida com alguns dos amigos do Colégio e alguns amigos da Escola. Fizeste os melhores amigos na Faculdade e ainda hoje se riem quando falam em Génese ou Paleografia. Ou do Sr. Contente da Marinha. Continuas a falar muito, a Lena sempre disse isso. Quando te sentires feliz e entre quem te ama vais continuar a ser "palhacita" e a falar pelos cotovelos. Mas também vais-te fechar quando fores magoada pela primeira vez. Quando perceberes que no mundo há pessoas más. Vais dar sempre impressão que és fria mas quem te conhece e quem vem por bem vai rapidamente perceber que não és assim. Vais continuar a gostar de permanecer nos bastidores mas vais aprender que às vezes é bom ser a protagonista. Tens um companheiro que te veio completar. Finalmente deixaste que alguém te amasse. Deixas-te que alguém te visse tal como és. Durante a nossa caminhada andaste quase sempre com uma capa à tua volta e mesmo quando ela caia meteste uma no coração. Talvez por isso as coisas nunca corressem tão bem. Mas olha, ainda bem que assim foi. Talvez não corresse tão bem com o teu amor se assim não fosse. Ele vai ser teu amigo, amante, companheiro, ajudante… vão se completar como tu nunca achaste possível. E vai-te fazer tão feliz. Vai-te ajudar a aprender a gostar de ti. Ele concorda com o barco que tu sonhaste, sim vais manter essa ideia sempre. E quer ser o teu futuro e o teu presente. Vais aprender a sorrir com ele e a caminhar com confiança ao lado de alguém. Vai pensar em dois em vez de lutares sozinha. Ah e é giro ;) tem os olhos azuis como gostas. E um sorriso que te vai derreter. Vais dar por ti com uma enorme vontade de ser mãe, vais perder essa vontade por completo e vai ser ele que te vai ajudar, lentamente, a perceber que esse sempre foi o teu maior sonho. Ouve-me, há um momento que te vai marcar. Vai-te custar muito perder a Avó. Vais questionar muita coisa à tua volta por causa da morte e da vida e da religião. Vai-te mudar. Ao longo dos anos vais-te aperceber disso. Vais percebe-la mas vai-te marcar para sempre. A relação com a mãe vai melhorar muito mas vais ter momentos muito difíceis entre vocês. Desculpa, ainda não consegui ser o melhor em tudo mas estou a caminhar com vontade e força. Vais gostar de ti com 30, mais do que com 20. Finalmente vais aprender a viver no momento e vais conseguir gostar do que conquistaste. Acredita, já foi muito mas ainda muito está para vir. Vai-te custar aprender a andar com a cabeça erguida mas estou a conseguir tirar os olhos do chão e a olhar em frente.




Vão-te deitar abaixo mas vais ver que terás força e muitas mãos que te ajudam a levantar. Vais aprender a ser a protagonista da tua própria história. E vais gostar de sê-lo.


Vais gostar muito de seres tu. Vais gostar de ser Mulher.
Vais gostar de ti.
Prometo.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

countess of monte cristo

their lips met...
they had all to be homecoming queen and king... only they were too dark for that.
she had piercing green eyes... her hair fall down her shoulders, black as the night sky... his eyes were deep and mysterious, so blue you could drown yourself on them... his hair was dark as his soul... darker.
he was fire... she was flame.
they could burn it all... one touch...
one night, she just left... no word... no sign...
that night... the remains of his soul... died.




she wakes up, not knowing were she was... slowly she opens her eyes... where was she? looking around without standing, she remains on the ground, the warm leaves stroking her cheek. nothing. there was nothing there for her. sitting with her feet under her, she runs her hand through her hair... her blood freezes... where was her ring... she could see the mark on her finger, her white creamy skin showing that mark... she starts to cry... her heart was hurting so bad she had the feeling it was bleeding... rubbingher chest she checks her hand... no blood... just pain...


he runs to the only place he can think of... the only place she might be... bursting through the trees and stones and leaves, he walks in the Sanctuary... stopping right in the middle... no sign of her... he kneels on the floor, her ring hanging on a silver thread... hitting his white skin, the blackness of the ring was big... he didn't understand what was happening... why was she gone... why? he couldn't breath without her... he looks up... it was still raining... it was raining since the day she was gone... he knew it... he knew it was her smile that brighten the days around there... without it... the rain was back... to stay... he lets out a roar that shakes the trees and makes the stones tumble...



so hard keeping her composure... she walks mindlessly... rain pouring... she hears something. her heart stops, closing her eyes. without thinking she turns and runs, only to find herself in his arms. gasping for air, the tears cloud her vision. only the familiar warmth and his voice could calme her. somehow she felt like she should apologize... he was different... they lock eyes... he was empty. it was him, but he wasn't there anymore. she steps back...


i've come for you, he says.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

de olhos fechados


(19/V/2012)
De olhos fechados.

O dia estava ameno, o sol já não aquecia como nos meses quentes desse Verão. O único som que X ouvia, era o das ondas a bater com violência metros e metros abaixo dos seus pés.
De há uns meses para ca, era algo que X gostava de fazer, fechar os olhos e esperar. Tinha-se tornado doloroso. Os dias, as horas e até os segundos previsivelmente maus, amargos, piores que o segundo anterior.
Sempre que fechava os olhos, X sorria, e sorria porque não sabia o que o próximo minuto ou segundo lhe iria trazer. Já o fazia em diferentes ocasiões, fosse numa esplanada, num baloiço, enquanto se debruçava na janela lá de casa ou mesmo quando conduzia. Quantos mais desconhecidos estivessem à sua volta, melhor, maior a probabilidade de algo, imprevisível, acontecer.
Mas o momento em que X mais gostava de fechar os olhos era quando estava naquela falésia, naquela praia de que tanto gostava. A sua favorita, onde estava agora. Onde sorria, de olhos fechados.
Um vento frio levantou-se, forte. X abriu um sorriso como há muito não se lhe via. Sorriu porque soube o que o segundo, o minuto seguinte lhe iria trazer. E não era previsivelmente mau…

10 Anos antes.
O nervoso miudinho crescia. A internet não estava a funcionar à mesma velocidade que o meu coração. Caramba. Tinha feito birra no dia das candidaturas à faculdade. Todos os meus amigos tinham preenchido o formulário com seis opções diferentes, seis faculdades diferentes, seis percursos diferentes. Já eu, não, sabia o que queria e sabia que iria entrar. Ou pelo menos na altura pareceu-me que sim. Os meus pais estão mesmo atras de mim, apoiados nas costas da minha cadeira enquanto olhamos os três para um ecrã que se mostra lento, maldoso mesmo. A imagem mexe. Eu sorrio e ouço uns suspiros de alívio atras de mim. Era previsível, mas sabe bem ter a confirmação, certo?
Nessa noite, das mais quentes que me recordo até então, saímos para jantar, perto da praia. Foi à minha escolha, gosto de saber que o mar está ali por perto. Fui a primeira a chegar, estaciono o meu pequeno e azul Fiat 500 L. Durante o último ano de liceu trabalhei no café/padaria central para poupar para ele. Nos entretantos dava explicações aos miúdos mais novos. No horizonte estava a faculdade na cidade mais próxima. Sei que teria sempre o apoio dos meus pais para esses gastos, mas gosto de saber que fui eu que consegui comprar este bocado de poluição que tinha agora à minha frente. Era dos anos 70, do ano que tinha nascido o meu irmão.
Ouço a voz da minha cunhada enquanto espero, sentada no muro de trás do restaurante, enquanto toco com os pés na areia. Distintamente ouço o meu irmão dizer que eu estaria do lado da praia se já tivesse chegado. Gosto de como me conhece bem. Gosto de ter um irmão mais velho. Não é que reveja nele uma pessoa forte e resistente. Talvez seja o oposto, vejo o como alguém que preciso de proteger e ajudar. Mesmo tendo dez anos de diferença, sei que sou eu que tenho que olhar por ele. Penso no dia do casamento dele, há poucos meses atrás, foi tudo tão rápido e sem sentimento. Lembro me de no final do copo de agua me ir abaixo por perceber que ele já não voltaria para casa, já não voltaria a partilhar o quarto comigo. Chorei essa noite. Chorei por saber que ele estava perdido e aquele casamento só o iria fazer se perder mais. 

(continua...)

domingo, 15 de janeiro de 2012

eu.

(fevereiro, 2010)

gosto de surpresas.
gosto do riso dos meus sobrinhos e do olhar da minha mãe.
gosto de iogurtes.
de estar à mesa com quem gosto.
gosto de gostar.
gosto da sunrise da norah jones quando vou a conduzir.
gosto de bolachas e de chocolate.
do cheiro da canela e das maçãs.
gosto de m&ms.
gosto de pão de deus ao pequeno almoço.
gosto de cat power ao adormecer.
durmo apenas as horas suficientes para aguentar um dia comigo.
não gosto de esperas.
gosto de calçar havaianas depois de meses de botas.
gosto de post it's.
gosto de ice tea de manga.
não gosto de sorrisos amarelos e fazer coisas contra vontade.
gosto de calças de ganga.
gosto de ter o cabelo escuro.
gosto de óculos de sol.
de mentos, smints e de maçãs verdes.
gosto de rir.
gosto de trailers, de séries e adormecer a ver um filme.
gosto de uma mensagem depois de um telefonema e uma ao acordar.
gosto de pronúncias.
gosto do phantom of the opera.
do pianista.
gosto muito de me perder.
gosto de abraços apertados e de beijos prolongados.
gosto de mimo. e beijos na nuca.
gosto de limão.
gosto de muralhas e castelos.
gosto de respirar fundo e recomeçar.
gosto de sorrisos.
gosto de ir a jardins.
gosto do ridley scott e pollanski.
do ennio morricone.
gosto de ver filmes sem legendas.
de filmes em francês.
gosto do adrian brody.
da voz do russell crowe.
dos metallica, priest e maiden, e de filmes lamechas que me fazem chorar.
de ouvir sinatra e dançar, dançar, dançar.
gosto de estar sozinha em casa.
gosto de roxo e encarnado.
gosto de flores.
de beijos inesperados.
gosto de escrever com canetas azuis.
gosto de música alta.
não gosto de leite.
gosto de queijo.
e de peixe.
gosto do vento no meu cabelo.
gosto de reuniões de família.
de passar horas em livrarias.
de pelourinhos e coretos.
gosto de clássicos e derbies de futebol.
de ir a bola com o mano.
gosto de café.
gosto de feiras e festas medievais e celtas.
gosto de nomes.
gosto de escrever numa folha de papel.
não gosto dos meus amuos.
gosto de me deitar e daqueles minutos entre o acordada e o adormecer.
gosto de ronha.
gosto de um beijo ao acordar.
gosto de olhar para as pessoas e imaginar-lhes uma vida.
gosto de conversar horas a fio.
gosto de tigres e cócegas.
gosto de compras.
gosto de londres.
de lembranças e do desconhecido.
gosto de andar descalça.
gosto de ir ao chiado.
gosto da fox life.
do cinema monumental.
gosto do pôr do sol.
gosto de andar a pé.
de improvisos.
gosto de barba por fazer.
do neil gaiman.
gosto de pergaminhos e mundos paralelos.
gosto de estórias bem contadas.
gosto muito de História.
gosto do sul e do calor.
gosto sem planos nem pressas.
gosto de manhãs.
gosto de estantes com livros.
gosto de klimt e uccelo e velásquez.
gosto de pintar.
gosto da diana krall.
gosto da alice e do gato.
gosto de chapéus.
gosto de mitos e batalhas.
gosto de observar e da tradição.
gosto da visão.
não gosto de pensar demais.
gosto de pormenores.
de escadinhas e recantos e miradouros.
dos clã.
não gosto de favas.
gosto de simetrias.
gosto de cozinhar.
e de dragões e neve.
gosto de ler e pensar, é isto mesmo.
gosto de viajar.
e de barcos e praia.
gosto de um copo no bairro.
gosto da expo.
gosto de silves e de lagos e de évora.
de sussurros.
gosto de nós quando estamos juntos.
gosto de sentir que é recíproco.
não gosto de desfazer malas.
gosto do número 14.
gosto de 5as.
gosto de saber o nome de muitos actores e letras de músicas dos anos 80 e 90.
gosto de folk e de indie rock.
de mpb.
gosto das palavras musicadas do palma e do reininho.
gosto da Lisboa que amanhece quando chego ao marques.
da ella e da nina simone.
não gosto de quando me mandam calar.
gosto de ter saudades.
gosto de pedir desculpa e ficar tudo bem.
custa-me a ingratidão, a arrogância e a falta de humildade.
gosto de facebookar.
não gosto de me viciar.
gosto do cheiro e som do mar.
gosto que me digam que estou errada, que me expliquem porque estou errada e me ensinem a ser melhor.
gosto de aprender.
tenho a mania de trocar de mala conforme a cor da roupa.
não gosto de falhar nem de quando me falham.
gosto do meu perfume.
do guincho e da meia praia.
não gosto quando estamos separados muito tempo.
gosto mesmo de livros e música e chá.
gosto de me sentir melancólica em dias de chuva.
gosto de conversas no carro à porta de casa.
gosto de fotografias a preto e branco.
gosto da lua.
do fogo.
gosto de beber chá antes de ir para a cama.
gosto de sonhos e do horizonte.
gosto de cenas e coisas fora de época.
não gosto de carnaval.
gosto de estrelas e símbolos.
gosto do meu nariz e dos meus olhos.
e do meu sorriso.
gosto de desafiar sentidos proibidos.
de olhares que decidem.
gosto de ser mulher.

gosto de ser eu.

e quando gosto gosto mesmo.